terça-feira, 22 de outubro de 2013

A Jangada de Pedra

O espetáculo de João Brites e Rui Francisco estará em Lisboa até dia 26. Depois, segue para Palmela, onde se apresentará numa nova versão

Sonho ibérico de Saramago inspira peça deslumbrante

Quinze anos depois de José Saramago ter ganho o Nobel da Literatura, e nove depois de O Bando ter levado à cena, com grande sucesso, ‘Ensaio sobre a Cegueira’, a companhia de teatro de Palmela decidiu tentar nova abordagem cénica à obra do escritor português, e está a apresentar, no palco do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, até dia 26, ‘A Jangada de Pedra’. Se a versão do texto para cena é de João Brites, a encenação, essa, está assinada quatro mãos (as de Brites e as do cenógrafo Rui Francisco). A música original volta a ser, como no ‘Ensaio’, do compositor Jorge Salgueiro.
“Cada vez mais esta é a nossa forma de trabalhar”, explica João Brites, mentor da companhia que, para o ano, celebrará o seu 40º aniversário. “Cada criador, seja da área da voz, da cenografia, da música ou dos figurinos, dá o seu contributo, que se junta ao todo, e que conta de igual forma.”
O resultado é um espetáculo difícil de classificar, mas que encanta pela beleza e pela surpresa. Devendo alguma coisa à ópera – ou, pelo menos, a uma peça musical coral –, o trabalho é dominado por um dispositivo cénico (estrutura vertical, espécie de prédio construído com redes e plataformas de vidro e habitado pelo corpo dos atores), que nos deixa com a sensação de estarmos perante uma obra plástica viva, cruzamento entre uma pintura e uma escultura, mas com gente dentro.
“As máquinas cénicas do Bando, que fizeram grande parte da sua história, já não são o que eram”, sublinha Rui Francisco. “Agora, precisam de pessoas que as habitem e as justifiquem”, acrescenta.
‘A Jangada de Pedra’, que tem estado nos planos da companhia há vários anos, foi inicialmente apresentada em Santa Maria da Feira, numa primeira versão, e depois de Lisboa segue para Palmela, onde conhecerá ainda uma terceira versão.
“É uma espécie de trilogia”, graceja Rui Francisco, “um trabalho em processo que quer crescer.”
João Brites garante que não fez este trabalho a pensar no contexto político em que vivemos, mas admite que uma leitura politizada desta ‘Jangada’ é inevitável. “Uma Península Ibérica que se afasta do resto da Europa e se aproxima gradualmente do Brasil e de África… Onde é que já ouvimos isto?”
No São Luiz, para além de seis músicos que, espalhados pela sala, criam o efeito ‘sound surround’, estão os atores Anna Kurikka, Bruno Huca, Guilherme Noronha, Miguel Branca, Nuno Nunes e Sara de Castro.


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