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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Os Marginais e a Revolução



Os Marginais, a partir de "Os Marginais e a Revolução - vida breve em três fotografias" de Bernardo Santareno (salvo o erro!) — com Flávio Santos e Catarina Fraga em Aveiro.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Judeu, de Bernardo Santareno



O Judeu retrata o calvário do dramaturgo setecentista António José da Silva, queimado pelo Santo Ofício, o autor plasma as suas criações no molde do teatro épico de matriz brechteana, adaptando-o ao seu estilo próprio.

O autor serve-se de textos originais de outros autores, tanto seus contemporâneos como da época evocada. São textos originais de António José da Silva, do Cavaleiro de Oliveira, de Luís António Verney, de D. Luís da Cunha, Livros Sagrados Judaicos, textos dos Processos Inquisitoriais, de Regimento do Santo Ofício, de Samuel Usque, do cardenal Cunha, de Ribeiro Sanches, de António Ferreira, de Sebastião de Carvalho e Melo, de Vilhena Barbosa, de António José Saraiva, uma pragmática d´El Rei D. João V, uma carta de Alexandre de Gusmão, um despacho datado de 1747 e dirigido ao Governador de Angola etc.
Todos estes trechos aparecem assinalados entre aspas; mas aqui também se encontram diluídas muitas das linhas mestras do pensamento do Cavaleiro de Oliveira sem que estejam de qualquer modo referenciadas.
Bernardo Santareno assume como texto próprio a maior parte das citações que nem sempre trazem a marca específica do autor citado, e que dispõem assim de uma nova função significativa como elementos constitutivos de outro texto.



 
A obra foi representada sete anos depois da abolição da censura (20/02/1981, no Teatro Nacional D. Maria) , quase como uma homenagem póstuma ao maior dramaturgo do XX. Ironia do destino, este teatro foi construído sobre os escombros do Palácio Estaus, onde funcionou a sede da Inquisição.
Santareno nunca acreditou na sua representação, por isso a escreveu tao longa e com didascálias tao pormenorizadas.
A morte impediu-o de ver no palco a sua “obras mais querida”.
O Judeu, um volume de 230 páginas e 9 edições de texto denso, retórico, barroco é a resposta a uma situação de denúnica vivida nos séculos em que se localiza a acção e a sua produção.
Peça longa e desordenada na sua construção, o que criou impossiblilidades técnicas de representação, daí os cortes ao original. Foram 29 800 espectadores e três meses depois da estreia ainda estava em cena.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Bernardo Santareno

Data de nascimento
19-11-1920
Local de nascimento
Santarém, Portugal
Data de morte
1980
Nacionalidade (país)
Portugal

Escritor português, nasceu a 19 de novembro de 1920, em Santarém. Formado em Medicina, com especialização na área de psiquiatria, Bernardo Santareno, pseudónimo de António Martinho do Rosário, foi um dos maiores dramaturgos portugueses. Tem sido corrente dividir a dramaturgia de Bernardo Santareno em dois grandes momentos: um que corresponderia às peças escritas entre 1957 e 1962 (A Promessa, O Bailarino, A Excomungada, O Lugre, O Crime de Aldeia Velha, António Marinheiro, Os Anjos e o Sangue, O Duelo, O Pecado de João Agonia e Anunciação), enquanto momento de "reflexão e busca de novas formas de expressão" (cf. REBELLO, Luiz Francisco - Posfácio a Obras Completas, vol. IV, Lisboa, Caminho, 1987, p. 388); nitidamente distinto de um segundo momento, inaugurado com O Judeu, marcado pela passagem de um esquema tradicional naturalista a um teatro brechtiano, amadurecido também na influência de Peter Weiss. A possibilidade de encadear, de forma não linear, no discurso de um narrador, o tratamento do tempo, conjugado com o recurso a modernas técnicas teatrais, como a utilização de vários espaços cénicos ou o uso dramático da luminotecnia, de efeitos visuais e sonoros, permite, então, subvertendo o modelo aristotélico, conseguir um acréscimo de sugestividade na transmissão da mensagem teatral. Entre estas duas fases, o traço de união parece ser a atenção prestada a um protagonista comum, "o povo português" (cf. id. ibi., p. 291), para o que concorre uma permanente articulação entre uma dimensão individual e histórico-coletiva na sua dramaturgia, ao mesmo tempo que, segundo Luiz Francisco Rebello, "Religiosidade e superstição, misticismo e erotismo, são os polos entrecruzados de um excruciante jogo dialético entre o bem e o mal, que se relativiza e torna cada vez mais concreto à medida que a obra progride e evolui no sentido de uma crescente consciencialização social." (id. ibi., p. 392), como se, ainda de acordo com o mesmo crítico, a incidência sobre a problemática da transgressão social, que seria objeto privilegiado a partir de O Judeu, não deixasse de conter em si a transgressão moral e frustração carnal abordadas em peças como A Promessa, O Crime da Aldeia Velha, João Agonia ou António Marinheiro. É certo, no entanto, que a eleição, desde 1962, de temáticas históricas com um alcance implicitamente didático permitirá uma utilização da "história como "máscara", à transparência da qual o passado devia ler-se como presente." (cf. id. ibi.), estratégia que, não passando despercebida pela censura, tornou-o um alvo da perseguição do regime salazarista, impondo sucessivas interdições de representação das suas peças. O profundo envolvimento na denúncia contra os atentados à integridade, dignidade e liberdade humanas atingirá um momento máximo de frustração e desilusão na peça de inspiração autobiográfica Português, Escritor, Quarenta e Cinco Anos de Idade, texto que, concebido como despedida do teatro e da vida, assume a forma de relato (individual, mas sem dúvida com um eco geracional) da forma como perdera todos os ideais, o entusiasmo e a esperança, entre a juventude e a vida adulta, atravessando as vias de martírio individual e coletivo do século XX português e europeu, chamadas Guerra Civil espanhola, Segunda Guerra Mundial, regime salazarista ou guerra colonial portuguesa. Depois da revolução de abril, desenvolveu uma intensa atividade na tentativa de reestruturação do teatro nacional, para a qual concorre com textos originais, coligidos em Os Marginais e a Revolução.

Bernardo Santareno. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-12-29].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$bernardo-santareno>.

A Promessa


"A Promessa", de Bernardo Santareno foi representada pela primeira vez a 23 de Novembro de 1957 no Teatro Sá da Bandeira, no Porto e reposta a 11 de Maio de 1967 no Teatro Monumental de Lisboa. Foi objecto de uma adaptação ao cinema por António de Macedo em 1973. Tudo antes do 25 de Abril de 74. Profundamente influenciada pelo neo-realismo e pela obra de Lorca, esta peça já traz em si o essencial do que caracterizará a maior parte da sua obra e utiliza como cenário o meio tradicional dos pescadores portugueses. "Ambiente que resuma os usos e os credos dos pescadores portugueses: não apenas os duma certa região (Nazaré ou Póvoa de Varzim, por exemplo)", diz-se no texto, logo no início, embora depois existam elementos ao longo da obra que identifiquem o lugar com a Nazaré.
Quando, no último artigo, dizia que Santareno cantava uma Dite despojada de criaturas mitológicas talvez falhasse um pouco a verdade poética dos seus textos. De facto, ainda que o espaço psicológico seja, essencialmente, infernal, a mitologia pagã está presente de uma forma semelhante à da tragédia grega. Na tragédia clássica, o mito era reiventado e reescrito pelos dramaturgos, não de uma forma apenas interpretativa, mas também religiosa. As várias versões da Medeia, por exemplo, não estabeleciam entre si conflitos de ordem de legitimidade. Não existia uma Medeia mais verdadeira que outra, ainda que cada dramaturgo a descrevesse em diferentes motivos narrativos e de acordo com diferentes percepções quanto às suas acções e motivações psicológicas. Assim é o escopo trágico na obra de Santareno, já em "A Promessa", e que se irá repetir em outras obras. O fundo é o misticismo cristão popular português, repleto de ânsias pagãs. A acção desenrola-se em torno de uma promessa feita por um jovem casal de prometidos, para que o pai do noivo se salve numa tempestade marítima. Promete-se a castidade, ao jeito de São Julião, Mártir, e Basilissa, santos, aliás, relacionados com o imaginário religioso marítimo, como acontece na Ermida de São Julião, na Carvoeira, Ericeira, onde restam, aliás, profundos mistérios gravados na pedra da religiosidade popular a que pretendo um dia dedicar algumas palavras. A castidade forçada, contra a natureza dos corpos de José e Maria do Mar, é a força motriz do drama que desencadeará o conflito onde a honra e a dignidade irromperão através de um desfecho violento, e onde o sacrilégio toma, em si mesmo, a mais profunda sacralidade. Não é só aqui que Santareno irá propor a heterodoxa rebelião contra a vassalagem divina de modo a estabelecer uma outra ordem, íntima, mais próxima de um Deus cruel que vive na autenticidade do mais escuro das almas dos protagonistas. Rebelião trágica que nem sempre (ou quase nunca) se poderá confundir com uma ordem moral que legitime as acções dos protagonistas, movidos mais pelo desejo que pelo Amor que tende à paz. O Amor divino, em Santareno, conduz à perdição absoluta. O absurdo da dignidade conquistada pelos meios mais indignos revela um desespero para o qual não é proposta outra saída que não seja aceitar o mergulho no abismo da própria alma.
 O cego, vivendo em escuridão, não é confundido pela prolixidade dos cenários apercebidos. O cego apercebe-se do essencial e descortina na intuição a realidade das coisas suspensas. Na personagem de Jesus, desta obra de Bernardo Santareno, permanece esta figura arquétipa do profeta cego e clarividente, a que se acrescenta a ingenuidade infantil e maravilhada pelos mundos a que não tem acesso (a terra das serpentes e das víboras) e a loucura religiosa de quem tem acesso ao que os outros não vêm nem compreendem, porque utilizam outra linguagem e porque se movem noutro contexto, noutro universo, que apenas se intersecta na compaixão pela dor dos outros.
A dor que, sabe-o todo o escritor, é o objecto da comunhão antropófaga do acto religioso e eucarístico de contar uma história.

A critica:
"Acontece, como me aconteceu, pegar sem fé num volume de peças de teatro de um autor desconhecido e descobrir, com deslumbramento, um grande dramaturgo português, com certeza um dos casos mais sensacionais da dramaturgia contemporânea depois do Lorca..."
António Pedro, em Diário de Notícias
"Poucas pessoas têm tantas qualidades como Santareno, para se perderem ou salvarem, nos pântanos do talento e do êxito, na celebridade das discussões apaixonadas, no vazio total e infernal das obsessões de angelismo."
Jorge de Sena, em Gazeta Musical e de todas as Artes.
"Depois de haver revelado ao público essa obra-prima do teatro português contemporâneo que A Promessa, de Bernardo Santareno, obra que cedo ou tarde atravessará fronteiras e terá a projecção universal que merece..."
Urbano Tavares Rodrigues, em Diário de Lisboa