quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Alfred Jarry


Alfred Jarry (1873-1907) formulou as suas teorias sobre o teatro em textos cujos títulos e conteúdos eram deliberadamente provocadores. O teatro deve ser simples e mesmo rudimentar, os cenários e as intrigas serão o mais sóbrio possível para permitir a propagação de um teatro do absurdo.
Criando um personagem que anuncia as figuras do ditador, tal como encontramos em Brecht (Arturo Ubi), Jarry utiliza uma linguagem bizarra e desconcertante, mistura de linguagem meio-letrada, meio-vulgar, deforma à-vontade as palavras, é percursor das rupturas cénicas que serão instituídas por Antonin Artaud, os escândalos surrealistas e a intervenção política da literatura, característica da segunda metade do nosso século.
A sua obra de referência: “UBU ROI”. Ubu é um pequeno burguês, funcionário ao serviço do Rei da Polónia. Sob a pressão da sua mulher ambiciosa ele decide matar o Rei para ocupar o seu lugar. Piscar de olho a Macbeth. Mas Ubu é cobarde e mal-criado. Uma vez no trono, revela-se cruel, estúpido, e o seu pensamento político é absurdo.
Ele transforma-se de pequeno burguês a tirano sanguinário, mas não é desprovido de um singular grão de razão, proferindo verdades inquietantes, como verdade saindo da boca de uma criança.
Jarry viveu como quis com sua bicicleta, seu revólver e o seu absinto.
Entre 1885 e 1888 ele já compõe comédias em verso e em prosa. Inspirado no sr. Hébert, seu professor de física e a encarnação de "todo o grotesco que existe no mundo", Jarry escreve uma comédia, Les Polonais, a versão mais antiga do Ubu rei.


Em 1891-1892 ele é aluno de Bergson.
Em 1894 apresenta Ubu rei na casa do casal Alfred (diretor do Mercure de France) e Rachilde Valette.
Em 10 de Dezembro de 1896 ocorre a tumultuada estréia de Ubu rei. As montagens das peças de Jarry seguem-se, seguindo o fio dos ciclos de Ubu.
Escreve uma obra curiosa, Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien, publicada postumamente, na qual expõe a patafísica, a ciência das soluções imaginárias.
É costume afirmar que se instaurou um clima de conflito nas artes em geral e no teatro em particular com a divulgação do Manifesto Surrealista de Breton em 1924, no entanto esse clima de “choque”. de “provocação” – sobretudo no campo teatral – remonta (senão antes) à apresentação de “Ubu Roi” em 10 de Dezembro de 1896. O autor, Alfred Jarry, contava na altura 23 anos de idade.
“Ubu”, o grotesco personagem que se torna rei de uma “Polónia” depois de “sarrafaçalar” e lançar no “caldeirão” o rei Ladislau (assim como todos os nobres que se lhe oposeram), torna-se figura central da maioria das suas histórias dramáticas.
“Ubu” é o símbolo de triunfo do ridículo, do absurdo e do irracional; “Ubu” é ainda o triunfo da anarquia – Ele é desconcertante; sobe a uma montanha, muito alta, para que as suas orações não tenham um percurso muito longo a caminho do céu …
Jarry preconiza a simplificação ou a supressão dos cenários, a adopção de uma máscara por parte dos actores, de forma a acabar com efeitos momentâneos e sobretudo para expressar o carácter eterno da personagem. Jarry atribui ainda um papel completamente novo à iluminação cénica e sugere que cada actor adopte uma voz especial – a voz do papel – que, segundo o próprio autor, provoca o “desencarnar”  da Personagem.
A proximidade entre Jarry e Dada reside na atitude.  A atitude perante a vida e a atitude perante a “coisa” arte.  Porem, para o movimento surrealista Jarry é uma “bandeira” que se agita com um outro significado; Jarry e, para eles, um pré-surrealista e o seu “Ubu” e, sobretudos expressão do inconsciente – a encarnação magistral do eu Nietzscheano e Freudiano que indica o conjunto de forças ignoradas, inconscientes e reprimidas, como vira a dizer, André Breton na sua Antologia do humor Negro.


O surrealista português, Antónío Maria Lisboa, atribui a Alfred Jarry uma dimensão Poética/sonhadora/mística.
“Jarry sabe que o sonho é este que vivemos de forma mais sábia: Dormir acordado, estar acordado quando dorme, viver responsavelmente o sonho, não desculpar, não se desculpar, não ter razões nem dar razões, e acontecer com a precisão sucessiva do que acontece é o traço de união…”
António Maria Lisboa


“Ubu Roi”, volta a cena em 1922 pela mão de Lugné-Poe.  A reacção do público foi negativa mas apesar do fracasso o grupo de Breton recebeu o espectáculo com entusiasmo.
Jarry foi ainda referência para o grupo constituído por Antonin Artaud, Roger Vitrac e Robert Aron que baptizaram o seu teatro com o nome deste poeta “maldito” desaparecido fisicamente em 1907.
“Tout est évidemment bon à mettre au théâtre si l’on consent encore à appeler théâtre ces halls encombrés de décors d’une peinture odieuse, construits spécialement, ainsi que les pièces, pour (biffé: L’infinie médiocrité de la foule) la multitude.  Mais cette question une fois tranchée, ne doit écrire pour le théâtre que l’auteur qui pense d’abord dans la forme dramatique. On peut tirer ensuite un roman de son drame, si l’on veut, car on peut raconter une action; mais la réciproque n est presque jamais vraie; et si un roman, était dramatique, l’auteur l’aurait d’abord (biffe : pensé) conçu (et écrit) sous forme de drame.”


Talvez seja precipitado afirmar que Jarry foi um protodada ou um pré surrealista.  Mas Jarry será sem dúvida, pelas suas propostas teatrais, um marco histórico do novo teatro, de uma nova estética.  As suas considerações visam, a escrita de teatro e também questões de ordem teatral e cénica.
“O actor troca a cabeça (e devia ser todo o corpo) pela personagem.  Diversas contradições e extensões faceais dos músculos podem produzir expressões, jogos fisionómicos, etc.  (…) O actor deve trocar a cabeça, com uma máscara, pela efígie da personagem, a qual não terá como na antiguidade carácter de choro ou riso (coisas que não são caracteres) mas sim o carácter da personagem…”
Alfred Jarry
Alfred Jarry
Ubu rei, do dramaturgo francês Alfred Jarry (1873-1907), é uma obra precursora de algumas das linhagens teatrais mais significativas do século XX, como o Dadaísmo, o Surrealismo, o Teatro do Absurdo e, mais recentemente, a performance. Texto de difícil classificação, esse misto de paródia, sátira grotesca e farsa obscena foi encenado pela primeira vez em 10 de dezembro de 1896, pelo Théâtre de l’Oeuvre de Paris, o mais importante reduto simbolista da época, dirigido pelo encenador Aurélien Lugné-Poe.
É praticamente consenso entre os estudiosos do Simbolismo considerar a peça de Jarry apartada dos princípios poéticos do movimento, especialmente pelo viés iconoclasta e pelo traçado grotesco e caricatural das personagens. Mas também por inaugurar uma forma inédita de humor, baseada na incongruência das ações e na incoerência das falas do protagonista.
Com o emprego desses recursos, Jarry opõe-se tanto à atmosfera rarefeita do  simbolismo como à reprodução naturalista da realidade, as duas tendências mais fortes do teatro francês da época, representadas pelo Oeuvre e pelo Théâtre Libre, de André Antoine.
Obras publicadas em vida
Obras póstumas
  • Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien, (1911)
  • Spéculations (1911)
  • Pantagruel (1911), opéra-bouffe créé en 1911, musique de Claude Terrasse
  • La Dragonne (1943)
  • La Chandelle verte (1969)
  • Pieter de Delft (1974), opéra-comique
  • Jef (1974), théâtre
  • Le manoir enchanté (1974), opéra-bouffe créé en 1905
  • L'amour maladroit (1974), opérette
  • Le bon roi Dagobert (1974), opéra-bouffe
  • Léda (1981), opérette-bouffe
  • Traduções
  • La ballade du vieux marin (1893, de The ancient mariner de Coleridge)
  • Les silènes (1900, teatro, tradução parcial de uma obra do alemão Chistian Dietrich Grabbe)
  • Olalla (1901, novela de Stevenson)
  • La papesse Jeanne (traduzido do grego segundo o romance de Emmanuel Rhoïdès)
  • Principais revistas nas quais colaborou
  • Écho de Paris
  • L'Art de Paris
  • Essais d'art libre
  • Le Mercure de France
  • La Revue Blanche
  • Le Livre d'art
  • La Revue d'art
  • L'Omnibus de Corinthe
  • Renaissance latine
  • Les Marges
  • La Plume
  • L'Œil
  • Le Canard sauvage
  • Le Festin d'Ésope
  • Vers et prose
  • Poésia
  • Le Critique

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