quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Harold Bloom



Harold Bloom (Nova Iorque, 11 de julho de 1930) é um professor e crítico literário estadunidense. O professor ficou conhecido como um humanista porque sempre defendeu os poetas românticos do século XIX, mesmo num tempo em que suas reputações eram muito baixas.
Bloom é autor de diversas teorias controversas sobre a influência da literatura além de um defensor ferrenho da literatura formalista (a arte pela arte), em oposição a visões marxistas, historicistas, pós-modernas, entre outras.
Em Contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades, coletânea de contos organizada por Bloom e editada em português, Bloom afirma que foi um menino bastante solitário apesar de rodeado por familiares carinhosos, e continua solitário depois de uma vida inteira dedicada ao ensino, à leitura e à escrita. "Mas teria estado bem mais isolado se poemas e histórias não tivessem me alimentado, e se não continuassem a me incentivar", completa.
Bloom é um dos grandes impulsionadores contemporâneos do conceito de Cânone Ocidental.
Shakespeariano, um dos grandes defensores da chamada "bardolatria", escreveu Shakespeare - A Invenção do Humano e Hamlet - Poema Ilimitado, dois grandes ensaios sobre o bardo.
Terry Eagleton, teórico da literatura, afirma que "a teoria literária de Bloom representa uma volta apaixonada e desafiadora à ‘tradição’ romântico protestante". Para ele "a crítica de Bloom revela com clareza o dilema do liberal moderno, ou humanista romântico, o fato que não é possível uma reversão a uma fé humana otimista, serena, depois de Marx, Freud e do pós-estruturalismo, mas que por outro lado qualquer humanismo, como o de Bloom, tenha sofrido as pressões agônicas dessas doutrinas".

Onde está a sabedoria?
                Harold Bloom, talvez o mais reconhecido critico literário, apaixonou-se pela leitura assim que começou a andar, quando as suas irmãs lhe levavam os livros da biblioteca para casa. É pois natural que tenha tido o projecto de escrever um livro sobre a maneira como a leitura nos ajuda a viver e a compreender as nossas vidas. No entanto, quando ia a meio teve uma experiência q o levou à beira dorte. Após a convalescença, deixou fora as paginas que escrevera e com um novo sentimento de urgência, escreveu uma obra, recorrendo a alguns ds maiores pensadores e escres do mundo ocidental para melhor compreender e encontrar a sabedoria.
Em "Onde está a sabedoria", Bloom parte da Bíblia correndo a história até ao século XX à procura da forma como a literatura pode influenciar as nossas vidas. A partir de comparações entre o livro de Job e Eclesiates, Platã e Homero, Cervantes e Shakespeare, Montaigne e Bacon, Johnson e Goethe, Emerson e Nietzche, Freud e Proust e finalmente o evangelho de Tomé e Santo Agostinho, Bloom apresenta-nos as várias formas de bedoria qldaram o nosso modo de pensar. Onde está a sabedoria?, título editado recentemente pela Relógio d'Água, é a tradução de uma obra que Harold Bloom publicou em 2004 (título original: Where Shall Wisdom be Found?) e dedicou a Richard Rorty. Nas primeiras linhas, Bloom esclarece que o livro «surge de uma experiência pessoal, reflectindo a busca de uma sageza capaz de aliviar e esclarecer os traumas resultantes do envelhecimento, da recuperação de uma doença grave e da dor causada pela perda de amigos queridos» (p. 15). Com efeito, ao longo de três partes/capítulos, Bloom procura reflectir sobre a relação entre a leitura e a procura da sabedoria (ou "sageza", para manter a palavra que me lembro de ter lido pela primeira vez numa descrição de Maina Mendes, romance de Maria Velho da Costa). Dirigindo-se a 'leitores comuns' e tomando como ponto de partida a ideia de que «fiéis ou não, todos nós aprendemos a aspirar à sabedoria, seja onde for que possa estar» (p. 15), Bloom, que se autodefine como «judeu e gnóstico» (p. 236), nunca chegará a tomar como sinónimos "sabedoria" e "conforto". Neste sentido, uma paráfrase justa do seu pensamento será: 'aprendemos coisas com os autores sapienciais (eg. aprendemos a conhecer os nossos limites) mas essa aprendizagem não é uma forma de conforto'.
Na reflexão que desenvolve, Bloom parte da interpretação dos autores que, em seu entender, formularam um pensamento novo e contribuíram para uma redefinição do que somos como ocidentais, ocupando deste modo o panteão dos autores mais "influentes" (sim, Bloom retoma em vários momentos a tese que defendeu em A Angústia da Influência, de 1973, e que agora sintetiza tão bem na frase: «toda a literatura forte é uma espécie de roubo», p. 145). Entre eles, estão os autores do Livro de Job (que ensina uma forma de temor derivada da consciência de que «não possuímos uma linguagem apropriada para os nossos contactos com o divino», p. 24) e do Eclesiastes (que formula uma "sabedoria da aniquilação", mais tarde retomada por Shakespeare), Platão (que pretende rivalizar com Homero e ascender ao lugar de filósofo-educador da Grécia; para Bloom, a melhor interpretação da querela foi apresentada por Iris Murdoch no ensaio "The Fire and the Sun", incluído num volume que citei aqui), Homero (cuja obra, contendo uma concepção da vida como campo de batalha de forças arbitrárias, disputa com os primeiros escritos do Antigo Testamento 'a consciência das nações do Ocidente'), Shakespeare e Cervantes (autores sapienciais da literatura moderna, o primeiro realizando uma síntese única de ideias antigas e modernas, o segundo tratando a 'literatura' como tema), Montaigne (sábio universal e pragmático, que nos leva à aceitação de nós próprios e cujos ensaios são um tributo à lucidez humana), Francis Bacon (uma espécie de poeta da prosa com tendências prometaicas), Samuel Johnson (escritor dado aos aforismos que afirma a vida e nega quaisquer interpretações dogmáticas), Goethe (que legou o ideal da Bildung), Emerson (esse Goethe americano que formulou a doutrina da confiança em si e deixou muitos discípulos; Bloom refere Whitman e poderia ter acrescentado F. Pessoa), Nietzsche ('poeta falhado' defensor de um esteticismo extremo e que percebeu as virtudes cognitivas da poesia), Freud (segundo Bloom, nunca estamos livres de Freud mas Freud, por seu turno, também não conseguiu libertar-se do pensamento judaico segundo o qual tudo é passado e tudo é semanticamente sobredeterminado) e Proust (o romancista que, como nenhum outro, transformou o ciúme em metáfora do "combate estético pela imortalidade"). Na última parte (Sabedoria Cristã), Bloom elabora uma caracterização do pensamento gnóstico (partindo do comentário do Evangelho apócrifo de S. Tomé) e sublinha a importância das reflexões agostinianas sobre o valor da leitura, i.e., sobre aquilo que podemos esperar da relação com os textos.
O texto de Bloom, note-se, é suportado pela possibilidade de estabelecer uma diferença entre autores sapienciais e filósofos. Ao primeiro grupo pertencem escritores como Platão e Shakespeare; no segundo, Bloom inclui figuras da história intelectual do ocidente como Hume ou Wittgenstein. Se a diferença supõe a influência como ideia central, é sempre possível argumentar sobre o carácter influente, ou seja, discutir sobre o cânone. E Bloom é, de resto, um crítico que não hesita em "polemizar" quando se trata de defender os clássicos e o cânone da literatura ocidental. Em Onde está a sabedoria? não faltam as invectivas contra as 'enxurradas' de literatura light (assim como as referências muito pouco simpáticas à administração Bush).
Referência das páginas: Harold Bloom. Onde está a sabedoria?, Lisboa: Relógio d'Água, 2008. Tradução de Miguel Serras Pereira.




Sem comentários:

Enviar um comentário