segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Todos os que caem na Comuna

Em 1956, na sequência do impacto produzido pelas sucessivas estreias, em diferentes palcos europeus, de a À Espera de Godot, Samuel Beckett (1906-1989) recebe um convite da BBC para escrever uma peça para rádio. Daí resultará All That Fall/Todos os que Caem (Setembro de 1956, data de escrita), a sua primeira peça radiofónica, e a mais extensa de todas as que viria ainda a escrever para este meio de comunicação, que assinala uma estreia dramatúrgica em língua inglesa; uma vez que tanto a enjeitada Eleutheria (a sua primeira peça que só teve edição póstuma) como En Attendant Godot e Fin de Partie, os seus três textos dramáticos inaugurais para palco, possuem uma versão originária em francês. Em Todos os que Caem, a mais irlandesa das suas obras teatrais, o autor escreve teatro pela primeira vez na sua língua materna (que é, por outro lado, a língua do dominador inglês, e por isso as suas personagens se lamentam nesta peça pela morte da língua original da Irlanda: o gaélico), e revisita ficcionalmente lugares e personagens reconhecíveis da sua infância em Foxrock; o seu biógrafo James Knowlson identifica, por exemplo, fortes analogias entre o retrato humano de Mrs. Rooney e a educadora de infância de Beckett, uma mulher de vincada personalidade que ele sempre recordaria com agrado ao longo da vida. teria ainda a particularidade de ser a segunda peça de Beckett, depois de Godot, a ter uma realização pública, uma vez que é transmitida pela rádio britânica em 13 de Janeiro de 1957.

Não sendo dos textos dramáticos mais conhecidos do autor (tendo este permitido uma adaptação para a televisão por Michel Mitrani, em 1963, na tradução francesa de Robert Pinget, de 1957: Tous Ces Qui Tombent), Todos os que Caem retrata as misérias da condição humana com um humor patético, negro e cúmplice, a partir de um casal de idosos, o cego Mr. Rooney e a sua mulher, Maddy, que o vai esperar à estação ferroviária. A peça em um só acto consiste em grande parte neste trajecto purgatorial - e por isso dantiano - de uma mulher envelhecida e doente, que não perde, contudo, conforme acontecerá com a sua sucessora Winnie, de Dias Felizes, a ironia jovial de uma resistente condenada à vida. Cultivando o prazer sonoro da palavra dita, este texto singulariza-se, dentro da obra beckettiana, pelo virulento tom de protesto, existencial e (a)teológivo (o título da peça deriva de um salmo veterotestamentário, alvo de escárnio por parte do casal protagonista), estabelecendo um flagrante contraponto sequencial com o messianismo em negativo de À Espera de Godot.

Autor Samuel Beckett
Tradução Carlos Machado Acabado
Direcção João Mota
Elenco Maria do Céu Guerra, Miguel Sermão, Hugo Franco, Álvaro Correia, João Tempera, Victor Soares, Ana Lúcia Palminha, Sara Cipriano, Alexandre Lopes, Carlos Paulo
Ambiente Sonoro José Pedro Caiado e Hugo Franco
Desenho de Luz João Mota
Figurinos Carlos Paulo
Guarda-Roupa Mestra Fátima Ruela
Fotografia Pedro Soares
Gabinete de Produção Rosário Silva e Carlos Bernardo
Operador de Luz e Som Alfredo Platas

Sem comentários:

Enviar um comentário