terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Judeu, de Bernardo Santareno



O Judeu retrata o calvário do dramaturgo setecentista António José da Silva, queimado pelo Santo Ofício, o autor plasma as suas criações no molde do teatro épico de matriz brechteana, adaptando-o ao seu estilo próprio.

O autor serve-se de textos originais de outros autores, tanto seus contemporâneos como da época evocada. São textos originais de António José da Silva, do Cavaleiro de Oliveira, de Luís António Verney, de D. Luís da Cunha, Livros Sagrados Judaicos, textos dos Processos Inquisitoriais, de Regimento do Santo Ofício, de Samuel Usque, do cardenal Cunha, de Ribeiro Sanches, de António Ferreira, de Sebastião de Carvalho e Melo, de Vilhena Barbosa, de António José Saraiva, uma pragmática d´El Rei D. João V, uma carta de Alexandre de Gusmão, um despacho datado de 1747 e dirigido ao Governador de Angola etc.
Todos estes trechos aparecem assinalados entre aspas; mas aqui também se encontram diluídas muitas das linhas mestras do pensamento do Cavaleiro de Oliveira sem que estejam de qualquer modo referenciadas.
Bernardo Santareno assume como texto próprio a maior parte das citações que nem sempre trazem a marca específica do autor citado, e que dispõem assim de uma nova função significativa como elementos constitutivos de outro texto.



 
A obra foi representada sete anos depois da abolição da censura (20/02/1981, no Teatro Nacional D. Maria) , quase como uma homenagem póstuma ao maior dramaturgo do XX. Ironia do destino, este teatro foi construído sobre os escombros do Palácio Estaus, onde funcionou a sede da Inquisição.
Santareno nunca acreditou na sua representação, por isso a escreveu tao longa e com didascálias tao pormenorizadas.
A morte impediu-o de ver no palco a sua “obras mais querida”.
O Judeu, um volume de 230 páginas e 9 edições de texto denso, retórico, barroco é a resposta a uma situação de denúnica vivida nos séculos em que se localiza a acção e a sua produção.
Peça longa e desordenada na sua construção, o que criou impossiblilidades técnicas de representação, daí os cortes ao original. Foram 29 800 espectadores e três meses depois da estreia ainda estava em cena.

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