terça-feira, 1 de abril de 2014

Harold Pinter no Teatro Nacional D. Maria

imagem dos ensaios no D.Maria: Rute nos tapetes
imagem dos ensaios no D.Maria: Rute nos tapetes
da Net
Jorge Silva Melo  "regressa" ao Teatro Nacional.  O que espero! Não fosse eu uma incansável perseguidora de Manoel de Oliveira, para quem no teatro está a perfeição: o cinema fixa o Teatro (veja-se o filme "Mon cas"; não, o melhor é ver "Belle Toujours", ou então, o mais recente "O Gebo e a Sombra", que nos dá, paredes meias, um manjar de teatro e cinema de uma beleza de pinta magistral). Não fosse eu a ver a Política como uma derme ou epiderme que não se separa de mim, e, ao mesmo tempo, não soubesse ou experimentasse eu que a arte não tem "mensagens". A arte, sim, mostra a dramaticidade do humano, em todas as suas dimensões. Mostra-me primeiro a mim. E para compor o acto, não tivesse eu sido professora de filosofia como Teddy (e também nos Estados Unidos) e fosse uma espécie de repatriada. Cereja no topo: não fosse eu uma devorada de Mário de Sá-Carneiro e dos seus Tapetes que me chamaram de "volta". Não muito longe dos de Harold  e do seu Regresso. Regresso a Casa, que lá é que me contento. Mas como?
Aparentemente nas antípodas de "A Modéstia", que J.Silva Melo estreou há dias e aqui  registei, a "realidade" volta ao palco e as "palavras" têm mais que "palavras". O estilo movediço do Nobel não impede, antes empurra rumo a um regresso. Qual? E quero lá eu confessar! A vida, o meu "eu", sou eu mesma que o pego e decido que ele vá. Que ande. Que corra. Que encontre, se possível. Que eu quero essa "paz", que não está longe da paz de Pinter e da que Ruth acabará por encontrar. É desse ethos que se trata. O autor da peça que estreia amanhã não se limitou a criticar a invasão do Iraque, ou a proferir uma palestra na Conferência pela Paz nos Balcãs. O que quer, cria e recria é "outra coisa"...
À espera do meu Regresso ao Teatro, redou a voz a 3 passagens do facebook - já público - do encenador. Em "antecipação":
"Não sabem o prazer que é ler um texto dos pés à cabeça. Sim, chama-se a isso interpretar/encenar. Sim, é tão simples como deixar-se levar pela música de dança, é, pé aqui pé acolá, o poeta comanda o slow, valsa de muitas notas, algumas bem recônditas, e que poeta, Harold Pinter. (Depois de uma semana dura de ensaios de O REGRESSO A CASA). Pé anté pé, sim."
"Será porque eu era rapaz nesses anos 60? O certo é que, pensando com atenção, não vejo como superar a representação da mulher que nesses anos ocorreu - e eu diria que sobretudo no cinema e no teatro. A "Eva"(Jeanne Moreau) de Joseph Losey, as Vittis de Antonioni, a "Darling" (Julie Christie) de Schlessinger, a Moreau de Truffaut, as Thulin/Anderson de Bergman, claro, a Gata da Fernanda Botelho - e, claro, a Ruth de "REGRESSO A CASA" de Harold Pinter (como as duas amigas de HÁ TANTO TEMPO do mesmo poeta, anos depois). Nunca antes se tinham visto mulheres assim, secretas, libertas do bovarismo, mulheres que não aguardam pelo homem, Kareninas sem Vronskys.Ah pois, todas vindas das mulheres que, nos anos 50, o magoado Pavese foi vendo pelo Nordeste de Itália, na praia, nos salões literários ou da moda, sim, ele viu-as."
"Sim, tive professores. Professores que me instigaram a ler atentamente qualquer texto, a ler bem de perto. Mário Dionísio, João Bénard da Costa, Fernando Belo, Manuel Antunes, Maria de Lourdes Belchior, Maria Alzira Seixo e, de certa maneira, Northrop Frye que me aconselhou em três ou quatro cartas preciosas. Não eram professores de teatro, nem de cinema, eram professores, foram meus professores. É por isso que gosto de "encenar"? É."
E os tapetes de Mário de Sá-Carneiro? "Dou-te" tudo aqui, com a "mesma" Pinta de Harold, sem que nada "trave" "night and day": "Que rosas fugitivas foste ali:/ Requeriam-te os tapetes - e vieste.../ - Se me dói hoje o bem que me fizeste,/ É justo, porque muito te devi./ Em que seda de afagos me envolvi/ Quando entraste, nas tardes que apareceste / - Como fui de percal quando me deste/ Tua boca a beijar, que remordi.../ Pensei que fosse o meu o teu cansaço / -Que seria entre nós um longo abraço/ O tédio que, tão esbelta, te curvava.../ E fugiste... Que importa? Se deixaste/ A lembrança violeta que animaste/ Onde a minha saudade a Cor se trava?..."
Peça complexa, esta de 1964, a terceira que Harold Pinter criou? Sem dúvida. Mas simples, muito simples


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