quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Morreu Joaquim Benite


O encenador Joaquim Benite morreu hoje aos 69 anos. O director do Teatro Municipal de Almada e do Festival de Almada, faleceu esta noite, na sequência de complicações respiratórias motivadas por uma pneumonia, indica um comunicado da Companhia de Teatro de Almada.



Joaquim Benite preparava a estreia absoluta em Portugal de “Timão de Atenas”, de Shakespeare, que representaria o seu regresso à actividade após um período de ausência dos palcos por motivo de doença.
O encenador ficará para a história como o fundador de uma das maiores  companhias teatrais do país e de um dos mais importantes festivais de teatro  da Europa, em Almada. 
Nascido em 1943, filho de um empresário do teatro, Joaquim Benite foi  ator quando tinha 17 anos, antes de perceber que "não tinha jeito nenhum",  e depois jornalista e crítico de teatro, com passagem pelas redações de  vários diários, antes de fundar, em 1970, o Grupo de Campolide. 
Abandonou a crítica - porque "não tinha muito sentido escrever sobre  o teatro dos outros. Se uma pessoa gosta, é fazê-lo", defendeu, numa entrevista  ao jornal i, em julho deste ano. E foi isso mesmo que fez: estreou-se na  encenação com a peça "O Avançado-Centro Morreu ao Amanhecer", de Agustin  Cuzzani. Sete anos depois, em 1977, o Grupo de Campolide profissionalizou-se  e instalou-se no Teatro da Trindade.  
No ano seguinte, saiu de Lisboa e mudou-se para Almada. Achou que "era  bom ir para a periferia" por "uma razão estética e uma cívica": "A primeira  era que certas opções estéticas são mais bem aceites por um público que  não tem convenções e a segunda era a vontade de criar um público". 
Em Almada se estreou com "Aventuras de Till Eulenspiegel", de Charles  de Coster e Virgílio Martinho. A designação de Companhia de Teatro de Almada  (CTA) viria mais tarde. 
Em 1987, inaugurou, com a peça de García Lorca "Dona Rosinha, a Solteira",  o Teatro Municipal de Almada (desde 2005 instalado no Teatro Azul, edifício  da autoria dos arquitetos Manuel Graça Dias, Egas José Vieira e Gonçalo  Afonso Dias, que é, a seguir ao Centro Cultural de Belém, a segunda maior  sala do país). 
Ao longo de 40 anos de carreira, Benite encenou textos de Molire, Brecht,  Lorca, Pushkin, Beckett, Shakespeare, Gogol, Eugene O'Neill, Mikhail Bulgakov,  Camus, Edward Albee, Thomas Bernard, Pablo Neruda, Peter Shaffer, Nick Dear,  Victor Haim, Sanchis Sinisterra, Marguerite Duras e Antonio Skármeta, entre  outros. 
Deu igualmente a conhecer, em estreia, autores portugueses como José  Saramago, Virgílio Martinho, Fonseca e Lobo e, mais recentemente, Rodrigo  Francisco, além de ter também encenado textos de outros autores nacionais,  como António José da Silva e Almeida Garrett. 
É autor de diversos textos para teatro, bem como de conferências e ensaios  e lecionou muitos cursos de teatro. Dirigiu, até morrer, a revista de teatro  Cadernos e a coleção de "Textos d'Almada".  
Criou, em 1984, e dirigiu sempre o Festival de Almada, um certame de  teatro internacional que se tornou o maior acontecimento teatral realizado  em Portugal, pela qualidade e quantidade de espetáculos de teatro de companhias  nacionais e estrangeiras que todos os anos nele se apresentam. 
Várias encenações suas receberam prémios da crítica e outros e ele próprio  foi distinguido com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural do Concelho de  Almada e a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura, além de  ter sido condecorado pelo Governo francês com o grau de Cavaleiro da Ordem  das Artes e das Letras e pelo rei de Espanha com a comenda da Ordem de Mérito  Civil. 
Quando lhe perguntaram se achava que ficaria na história, respondeu  assim: "Os encenadores nunca ficam na história. Só os escritores, como o  Shakespeare. Sabe, acho que vale a pena viver para nos divertirmos. Lutar  por coisas, para cumprir missões, não. O teatro é um sinal de civilização  que está na origem da sociedade. Até nos animais. Quando chego a casa, o  meu cão faz uma dança que parece egípcia, pá. São rituais de representação.  Mas o teatro não tem missão nenhuma. É uma coisa que as pessoas fazem porque  gostam e as outras veem porque lhes dá prazer". 
  Com Lusa


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