"Olhando o Céu Estou em Todos os Séculos"
Com ou sem pipocas, vamos olhar o céu e estar em todos os séculos! Mais morangos, menos morangos, vodka, gin ou azoto líquido, doce de abóbora, maçã, requeijão e mel, e sobretudo cheios de entusiasmo, organizámos o Espaço para mais este espectáculo cujo texto nos foi gentilmente entregue e pelo qual nos apaixonámos. Apresentamos este verão, debaixo do céu das Aguncheiras:
de Abel Neves, argumento breve
Não andam perdidas as personagens de Olhando o céu estou em todos os séculos, mas quase. Estaremos perdidos nos diálogos do amor quando a tristeza obriga a que a construção de um parque de mamutes seja tema de conversa ou uma mulher confessa a outra que não percebe como é que o marido chega a ministro falando mal e porcamente? O que fazer contra a abulia no amor? Há relação entre a violação de Ariadne, em Naxos, o sacrifício do português José Luso (entregando o corpo à ciência, mergulhando-o em azoto líquido e para ressuscitar heroicamente cem anos depois) e a recordação de infância de um motorista que lembra a morte do bisavô que se enforcou numa oliveira deixando um último poema de amor? Há relação. Mas qual? Que secretas coisas anunciam a harmonia? O que faz com que Otzi, o infeliz amoroso, decida vir para a rua com um cartaz onde se pode ler: “Alguém que eu possa amar, por favor”? E que vantagens tem o nome “Silicon Valley” na vivenda da casa de Lucy e de ser a América um lugar de exílio onde os emigrantes mendigam sobrevivências? Que atenção dedicamos, afinal, à fragilidade humana e como viver com ela? A memória solta os muitos acontecimentos da vida e pode bem ser, no teatro, um canteiro de girassóis. Em dimensões diferentes, treze personagens, algumas sem nunca trocarem uma palavra entre si, em treze panoramas teatrais, sugerem imprevisíveis histórias das suas vidas. Não será isto também uma boa parte da nossa vida? Precisamos todos, talvez, de uma indulgente compreensão, e dizemo-lo, mas... estaremos capazes de cumprir o que dizemos?
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